Grupos de Trabalho,  Interlocuções

Grupo de Interlocuções entre Psicanálise e Política

A relação entre psicanálise e política não é óbvia, muito menos, unívoca. Embora Freud tenha sempre pensado a política a partir da psicanálise (problematizando, por exemplo, a guerra, o poder, a violência, as massas, o mal-estar), nem sempre os/as psicanalistas levaram às últimas consequências essa relação. Além disso, ainda que o discurso freudiano tenha mantido sempre o horizonte da política em sua obra, algumas questões fundantes da modernidade não foram trabalhadas, como a escravização, a colonização e o racismo – e suas imbricações com o capitalismo (Faustino, 2022) -, o que, provavelmente, repercutiu no silenciamento dessas questões na comunidade psicanalítica, por tantas décadas, e incide na prática e pensamento da psicanálise ainda hoje.

Com as necessárias interpelações contracoloniais que vêm sendo feitas ao campo psicanalítico, uma série de questões começaram a se colocar, por exemplo: que marcas da europeidade são encontradas no texto freudiano, ou ainda, da psicanálise pós-freudiana? Em que medida o fantasma colonial permeia (mesmo que de forma não-dita) a teoria psicanalítica? Assentada em que epistemologia o discurso psicanalítico se fundou? Como o regime patriarco-colonial, marcado pela hegemonia branca, bem como, pela heterossexualidade compulsória e pelo binarismo sexual afetaram a construção da teoria psicanalítica? 

Essas questões se desdobram em outras, sobretudo, para nós, psicanalistas brasileiras/os: como se deu o trânsito da teoria psicanalítica para o Sul Global? Em que medida a recepção da psicanálise no Brasil ignorou essas contingências histórico-temporais – próprias de sua matriz européia -, incorporando a teoria e prática psicanalítica de maneira acrítica e desconsiderando, portanto, nossas particularidades locais? Que consequências isso teve e ainda acarreta para as instituições de psicanálise, para os processos de análise e de formação? Como formular um pensamento psicanalítico sem as amarras coloniais? Ou ainda, como pensar uma psicanálise brasileira? 

Essas são algumas das questões que têm norteado o GT Psicanálise e Política. Tendo em vista que a psicanálise não é atemporal e que o inconsciente não é a-histórico, temos nos colocado a debater a despatriarcalização, desheterossexualização e descolonização da psicanálise – “tripé” proposto por Preciado (2019) para refundar a psicanálise – bem como, as relações raciais de poder. Para tanto, temos trabalhado contribuições de pensadoras/es como Lélia Gonzalez, Deivison Faustino, Jota Mombaça, Helena Vieira, Paulo Galo, Lia Schucman, Frantz Fanon, Grada Kilomba, Isabelle Stengers, Paul Preciado, Achille Mbembe.

Além disso, concordando com Preciado (2019) de que não basta mudar conceitos e teorias, mas que é preciso refutar as epistemologias através dos quais esses foram formulados, temos realizado um trabalho não só de problematizar a epistemologia fundante da psicanálise, mas de transitar por epistemologias outras. Nosso intuito não é, de modo algum, encontrar equivalências – o que seria replicar uma lógica colonial e uma violência epistemológica – mas de reconhecer aquilo que se coloca como opacidade entre elas, ou ainda, como a psicanálise pode se deixar a ver a partir dessas epistemologias.

Periodicidade: Mensal – 3ª quarta-feira do mês às 21h

Representante: Bruno Siniscalchi e Natasha Helsinger

Componentes: 

Beatriz Boueri
Bruno Siniscalchi
Carlos Coelho
Leila Ripoll
Luciano Dias
Luiza Rondas
Natasha Helsinger
Scheilla Nunes