Curso com Nelma Cabral*: “Corpo, tambor e voz. Raça e psicanálise nas encruzilhadas.”

4 encontros ao vivo e online, semanal as segundas-feiras, das 19h às 21h

Calendário: 10, 17 e 24/11e 01/12/2025

Inscrições aqui


*Psicanalista, membra do EBEP-Rio, pesquisa olhar e voz na psicanálise e nas relações raciais


Como, por que razão e a quem se destina trazer o tambor e propor sua introdução na psicanálise para abordar a voz e o corpo? 

Problematizar olhar e voz na psicanálise em uma sociedade forjada a ferro e fogo pela colonização em que indígenas, negros, negras e negres não só revivem no racismo cotidiano a repetição do trauma colonial, mas também mostram formas de resistências, ou melhor, modos singulares de re-existências, exige abertura – ver, escutar e pensar. 

Exige reconhecer com a psicanalista Taiasmin Ohnmacht “que tambores existem”, chamar com o som dos tambores os significantes para dança, introduzir e pôr na berlinda a metapsicologia das pulsões.

Ao abordar a voz, em sua dimensão pulsional, considerando-a como a dimensão mais íntima do sujeito, tendo o tambor, e não o shofar, como instrumento privilegiado, tal como nos sugere Lacan no seminário X, foi se impondo a exigência de outros trilhamentos. 

Proponho neste caminhar nos fazer acompanhar de ferramentas filosóficas, conceituais e poéticas de Muniz Sodré, Leda Martins, Fabiana Cozza, Saloma Sallomão, Tiganá Santana e outros e outras. Arrisco a dizer que o toque do  atabaque não materializa a voz identificada com o supereu como argumenta Lacan ao recorrer ao shofar. Aponta para outras identificações.

No âmbito das culturas originárias o batuque, a voz e a dança foram e são fundamentais para re-existência e re-invenção de sujeitos indígenas, negros, negras. 

A recusa da insígnia de seres abjetos, a transmissão de saberes, memórias, a recriação e a formatação de outros modos viventes, mostram como descreve Muniz Sodré em sua filosofia a toque de atabaque, que o axé, em sua multiplicidade pulsional, incluindo o individual e o coletivo, o pré-individual e o impessoal se opõe ao recalque.

O psicanalista Ignácio A. Paim Filho, a psicanalista Hayanna Carvalho Santos Ribeiro da Silva, os comentários da psicanalista Wania Cidade sobre o caldeirão pulsional e a incidência do recalque e da sublimação na experiência vivida dos não brancos permitem abrir caminhos para elaboração de uma metapsicologia do olhar e da voz descentralizada da cultura judaico-cristã, atinada com o viver abaixo da linha do Equador.

São alguns destes caminhos que pretendemos abordar neste curso.

Esperamos vocês. 

As referências bibliográficas serão apresentadas durante o curso.