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O tambor e a voz: Problematizações psicanalíticas e antirracistas – Primeiro tempo

Coordenadora: Nelma Cabral, psicanalista, membro do EBEP-Rio, trabalha o tema “Psicanálise, Raça e Gênero”

Início: 11 de novembro 2024

Duração: 4 encontros, nas segundas-feiras de novembro

Onde: Online pelo Zoom. Inscrições no Sympla, aqui.

Horário: 20h às 21h30

Datas:  11, 18 e 25 de novembro até 02 de dezembro 2024

A possibilidade para o vivente humano advir enquanto um corpo-sujeito ou uma corpa sujeita no mundo e conquistar uma voz própria pressupõe primeiro um chamamento, um apelo do Outro, nos transmite o saber psicanalítico. Acolhendo este saber e revolvendo as ideias que levaram Lacan a encontrar no shofar o recurso para dar materialidade, substantivar uma das formas do do objeto a como voz e ligá-lo à invocação e ao desejo do Outro, uma questão se colocou.

Podemos pensar a pulsão invocante e o objeto voz na tradição brasileira, tal como Lacan se serviu da materialidade do shofar na tradição judaica para introduzir a voz como uma das modalidades do objeto a?

O recurso ao shofar e a sua música, encontrado nos estudos de Theodor Reik, interessa a Lacan, por este objeto da tradição judaica possibilitá-lo apresentar a voz em sua ligação com o desejo, a angústia e o gozo. Importa, para nós, problematizar a materialidade do objeto voz em sociedades e culturas em que esta tradição não foi a dominante como a cultura afrobrasleira.

Encontramos no próprio Lacan, em seu seminário que articula angústia e voz em suas funções de causa de desejo e de gozo, a possibilidade de considerar como recurso o tambor, e não o shofar. 

No âmbito das culturas originárias do continente africano, como o Brasil e outros países resultantes do colonialismo europeu, que transformou a população negra em seres abjetos, o som, o batuque, a voz e seus vários meios de elocuções foram fundamentais para resistência, recusa dessa insígnia, construção e formatação de outros modos viventes, que não se pautam pelos modos de subjetivações e gozo da cultura europeia.

No Brasil, os tambores têm função decisiva na formação subjetiva e nos modos de resistência e gozo dos sujeitos/as advindos de outros registros da voz e do corpo, como mostra a poeta, ensaísta, dramaturga e professora Leda Martins.

Considerado como um continente bailarino pelo filósofo congolês Fu-kiau, o continente africano impregnou muito mais a formação social e cultural brasileira do que gostariam muitos de nossos intelectuais e pensadores deste campo, que fascinados pela tradição musical européia, ficaram surdos a uma escuta fina do lugar do tambor e da voz nesta estruturação da sociedade.

Para Leda Martins, o poderoso trio – tamborilar, cantar e dançar – e a função dos tambores em vários registros do viver são constitutivos e fundamentais para tessitura da memória, da organização da população negra e da sociedade brasileira.

Pretendo problematizar a pulsão invocante e a voz como objeto a, entre angústia e gozo e o recurso ao tambor e a cultura do tambor para pensar a materialidade da objeto a, caminhando a partir do dispositivo da racialidade tal como concebido pela filósofa e escritoraSueli Carneiro e das eleborações sobre um real da raça, proposto pelo psicanalista Thamy Ayouch.

A bibliografia será fornecida no primeiro encontro.