NOTA CONTRA A MERCANTILIZAÇÃO DA PSICANÁLISE E DE APOIO AO POSICIONAMENTO DO PSICANALISTA JAIRO CARIOCA

O EBEP-Rio vem a público manifestar seu apoio ao manifesto do psicanalista Jairo Carioca, que no dia 29 de setembro de 2025 sofreu ameaças de judicialização em razão de seu posicionamento crítico à mercantilização da psicanálise. Repudiamos qualquer tentativa de silenciar a voz de analistas que se colocam na defesa da psicanálise como prática ética e insubmissa.

Repudiamos eventos ocupados com o desenvolvimento de estratégias de marketing para arrecadar público associando-as à psicanálise. Práticas de coaches e publicitários sinalizam para uma colonização da prática psicanalítica pelo discurso capitalista, o que põe em questão a força subversiva que a caracteriza. A ética da psicanálise, ocupada com o desejo e o desamparo fundamental que marcam as subjetividades, é colocada fora de cena quando estas estratégias de marketing operam no sentido do aperfeiçoamento de um negócio; elas escamoteam o sujeito dividido, vulnerável e frágil para mascará-lo como um sujeito realizado e bem-sucedido.

A situação se torna ainda mais crítica quando tais eventos, cursos e instituições ainda associam suas praticas à formação de psicanalistas.

Reafirmamos nossa crítica às formas de captura da psicanálise por lógicas neoliberais, religiosas e corporativas, que a reduzem a mercadoria e esvaziam sua potência política e clínica. Nesse sentido, repudiamos a lógica do evento promovido pela ABPC, que vai na contramão do discurso psicanalítico.

E assim, o que estaríamos criticando é a associação da psicanálise a práticas de publicidade, marketing e capacitação de pessoas interessadas em maximizar lucros de seus negócios, o que incorre no risco de fazer a psicanálise capitular diante da vontade de ganhar dinheiro como movimento primeiro (e talvez único) dos demandantes e ofertantes de tais cursos e eventos.

Uma psicanálise tem por direção de tratamento o reposicionamento do sujeito diante dos imperativos de gozo que o assujeitam. Eventos como esse não põem em crítica os imperativos de gozo ligados ao ideal de empresário capitalista de si, mas, ao contrário, os reifica.

Criticamos também a associação da psicanálise com práticas de harmonização, tendo em vista que supõem seja adaptação seja mestria sobre as pulsões, o que é absolutamente contrário a um tratamento que coloca o sujeito diante de sua divisão e desamparo.

Ou se trata de desconhecimento ou discordância da psicanálise. Portanto, não se deveria chamar tais eventos de psicanalíticos. Há outras práticas, lógicas e teorias psicológicas que se ajustam melhor ao que estes cursos capacitam, então perguntamos porque insistir com a psicanálise, que se exerce desde Freud, posto que é estruturalmente assim, como crítica à sujeição ao mestre?

Dada sua relevância pública e seu histórico de crítica à mercantilização da psicanálise e à formação de psicanalistas na universidade, gostaríamos de escutar o psicanalista Christian Dunker tendo em vista que participou ocupando lugar e destaque em tal evento da ABPC.

O EBEP-Rio se soma às vozes que defendem a psicanálise enraizada em sua ética, recusando qualquer forma de submissão às ideologias que tentam domesticá-la.

EBEP-Rio
Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos do Rio de Janeiro